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Cinemática
Capítulo 3.5 – Lançamento horizontal - balística
A palavra balística tem origem no grego ballein, que significa “lançar”. Esse ramo da física estuda o lançamento, o comportamento durante o voo e os efeitos do impacto de projéteis. Para compreendê-lo, é fundamental retomar- mos os conceitos da Cinemática, especialmente os movimentos retilíneos o movimento uniforme e o uniformemente variado que descrevem o desloca- mento unidimensional de um corpo. Agora, ampliaremos essa análise para movimentos em duas dimensões , aplicando os mesmos princípios da cinemática. O exemplo clássico desse tipo de movimento é o de um projétil, nome dado a qualquer corpo lançado no es- paço cuja única força atuante, após o lançamento, é a gravidade. O primeiro estudioso a aplicar um tratamento matemático ao estudo da balística foi o matemático italiano Niccolò Fontana Tartaglia (1499–1557), autor do livro La nuova scientia. Nessa obra pioneira, Tartaglia combinou os conheci- mentos de matemática com a prática da artilharia, analisando a trajetória dos projéteis e investigando qual ângulo de lançamento maximizaria o alcance de um disparo de canhão — como ilustrado na figura abaixo. Mais tarde, em sua obra Quesiti et inventioni diverse , Tartaglia retomou as questões militares e propôs uma descrição da trajetória de um projétil dividi- da em três fases:
distância altura
Na figura, Tartaglia indica a posição de disparo de um canhão formando um ângulo de 45º, livro “Quesiti et inventioni diversas”
lustração do livro “Quesiti et inventioni diversas”, mostrando a trajetória do projétil
3.5.a Um pouco de história
A figura abaixo ilustra alguns exemplos de projéteis. Todo corpo que, após ser lançado, passa a se mover apenas sob a ação da gravidade é considerado um projétil. Isso inclui: Um corpo em queda livre , com velocidade inicial igual a zero ; Um corpo lançado verticalmente para cima , que desacelera até parar momentaneamente no ponto mais alto e, em seguida, retorna à Terra; O lançamento oblíquo , em que o corpo é lançado formando um ângulo com a horizontal, descrevendo uma trajetória curva no ar; E o caso clássico da bala de canhão disparada horizontalmente a partir de uma certa altura, que percorre uma trajetória parabólica ao mesmo tempo em que cai. Esses são todos exemplos de movimento bidimensional, nos quais a análise pode ser feita separando os movimentos horizontal (com velocidade constante) e vertical (com aceleração devido à gravidade) . Essa separação é a chave para entender o comportamento dos projéteis no ar.
Um trecho reto, impulsionado pela força da pólvora (de A até B), chamado de moto violento; Uma curva, resultado da ação da gravidade (de B até D), o moto natural; E, por fim, uma linha reta vertical, na qual o projétil cai perpendicularmente ao solo (de D até F). Apesar de seus avanços, Tartaglia não chegou a descrever com precisão a verdadeira trajetória parabólica de um projétil. Sua obra, Nuova scientia, publicada em Veneza, em 1537, foi a primeira a abordar sistematicamente a teoria e a prática da artilharia. Ele identificou corretamente que o ângulo de 45º proporcionava o alcance máximo, mas não conseguiu demonstrar matematicamente essa conclusão, mantendo ainda concepções equivocadas da época sobre o movimento dos projéteis. Mesmo assim, Tartaglia foi responsável por um marco importante: introduziu o tratamento científico no estudo da balística, lançando as bases para os desenvolvimentos posteriores, inclusive os realizados por Galileu Galilei no século seguinte.
Homem bala - Foto gentilmente cedida por Ennor, Barry Human Cannonball @ the Royal Cornwall Show 2007
Esses tipos de lançamentos estão presentes em diversas situações do cotidiano, especialmente em contextos históricos, esportivos e militares. Nas armas de arremesso, por exemplo, projéteis são usados para lançar pedras, lanças e flechas contra inimigos, predadores ou presas. Em tempos mais modernos, esse princípio se aplica a armamentos como balas, granadas, projéteis de artilharia e outros dispositivos similares, todos baseados nos fundamentos da balística. Nos esportes, o movimento de projéteis também é amplamente observado: Em jogos como beisebol, críquete, futebol e boliche, onde bolas são lançadas ou arremessadas; Nas apresentações de malabarismo, com objetos sendo lançados e pegos em trajetórias bem definidas; No atletismo, com modalidades como o lançamento de disco, martelo, peso e dardo, além do salto com vara e o salto em distância, que envolvem trajetórias parabólicas no ar. Desconsiderando os efeitos da resistência do ar, um projétil é qualquer corpo que, após ser lançado ou abandonado, passa a se mover somente sob a ação da gravidade. Se houver qualquer outra força atuando sobre ele — como propulsão contínua ou controle aerodinâmico — ele não será considerado um projétil no sentido físico. Um exemplo é o míssil de cruzeiro, que mantém voo motorizado e guiado por sistemas eletrônicos, diferentemente de um projétil que segue apenas sob influência gravitacional após o lançamento. É comum que os estudantes tenham dificuldade em aceitar que a única força atuando sobre um projétil em pleno voo (em um modelo ideal, sem ar) é a gravidade — inclusive quando o corpo está subindo. Nesse caso, o projétil desacelera enquanto sobe, até atingir a altura máxima, onde sua velocidade vertical é nula. A partir daí, ele inicia o movimento descendente, acelerando novamente em direção ao solo. Esse comportamento já foi estudado nos movimentos verticais e agora se integra ao estudo dos lançamentos oblíquos e horizontais.
lançamento de disco
lançamento do martelo
lançamento do dardo
Agora, vamos imaginar uma situação hipotética: suponha que exista um “interruptor da gravidade” e que, inicialmente, ele esteja ligado. Uma bala de canhão é disparada horizontalmente do topo de um penhasco. A pergunta que surge é: Que efeito a gravidade terá sobre o movimento da bala de canhão? Mais especificamente: 1 . A gravidade afeta o movimento horizontal da bala de canhão? 2 . A bala de canhão percorrerá uma distância horizontal maior ou menor devido à influência da gravidade? A resposta para ambas as perguntas é: Não! A gravidade não interfere no movimento horizontal do projétil. Ela atua exclusivamente na direção vertical, puxando a bala de canhão para baixo. O movimento horizontal ocorre com velocidade constante, enquanto o movimento vertical é uniformemente acelerado, com aceleração igual à da gravidade (g ≈ 9,8 m/s²). Portanto: A distância horizontal que a bala percorre não depende da gravidade , mas sim da velocidade inicial horizontal e do tempo de queda. O papel da gravidade é f azer com que a bala caia , ou seja, encurtar o tempo que ela permanece no ar , o que pode limitar a distância horizontal total percorrida. Mas ela não desacelera nem acelera o movimento horizontal. Se, por outro lado, o interruptor da gravidade” estivesse desligado, a bala seguiria em linha reta horizontalmente para sempre (ou até encontrar um obstáculo), com velocidade constante, já que nenhuma força agiria sobre ela. Esse exemplo ajuda a ilustrar uma das ideias mais importantes da física: os movimentos horizontal e vertical são independentes e devem ser analisados separadamente em um lançamento.
A gravidade atua verticalmente sobre a bala de canhão, afetando especificamente seu movimento vertical. Ela é a responsável por produzir uma aceleração constante para baixo , fazendo com que a bala se desvie de sua trajetória retilínea original e inicie uma queda vertical em relação à linha reta que seguiria caso não houvesse gravidade. Essa força exercida pela Terra sobre qualquer corpo com massa é o que determina o movimento para baixo do projétil, originando a trajetória curva característica, que chamamos de trajetória parabólica. Nesse contexto, o movimento do projétil resulta da c omposição de dois movimentos simultâneos e independentes: No eixo horizontal (eixo X), o projétil segue com velocidade constante , que nenhuma força atua nessa direção (lembrando que estamos desconsiderando a resistência do ar ). No eixo vertical (eixo Y) , o projétil realiza um movimento uniformemente variado (MUV), ou seja, um movimento acelerado com aceleração constante, chamada de aceleração da gravidade (g ≈ 9,8 m/s²). Uma das ideias mais importantes ilustradas por esse tipo de movimento é a de que os movimentos horizontal e vertical são independentes. Essa compreensão foi formulada pela primeira vez por Galileu Galilei, que reconheceu que a gravidade afeta o componente vertical do movimento. Ele utilizou esse princípio para prever o alcance de um projétil, lançando as bases do estudo moderno da balística. Esse princípio da independência dos movimentos é essencial para a análise de lançamentos oblíquos e horizontais, pois permite que cada componente do movimento seja estudado separadamente, com suas próprias características e equações.
Neste tópico, você aprenderá como as componentes horizontal (x) e vertical (y) da velocidade e do desloca-mento de um projétil evoluem com o tempo algumas permanecem constantes, enquanto outras variam de forma previsível. Vamos retomar o exemplo da bala de canhão lançada horizontalmente do topo de um penhasco. Suponha que ela seja disparada sem ângulo de elevação , com uma velocidade inicial de 20 m/s apenas na direção horizontal. Se não existisse a gravidade, a bala continuaria indefini-damente seu movimento horizontal a 20 m/s, em linha reta. No entanto, devido à presença da gravidade, a bala passa a a celerar para baixo com uma aceleração cons-tante de aproximadamente 10 m/s² (adotando o valor aproximado para facilitar os cálculos). Isso significa que a velocidade vertical (Vy) aumenta em 10 m/s a cada segundo:
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A Figura compara uma bala de canhão em queda livre (em azul) a uma bala de canhão lançada horizontalmente em movimento de projétil (em vermelho). Você pode ver que a bala de canhão em queda livre cai na mesma proporção que a bala de canhão em movimento de projétil.
A trajetória curva de objetos em movimento de projétil foi mostrada por Galileu como uma parábola, mas também pode ser uma linha reta no caso especial quando é lançada diretamente para cima ou para baixo.
Neste vídeo você verá algu- mas situações no lança- mento horizontal, onde a velocidade aumenta e con- sequentemente aumenta o alcance.
3.5.c Exercícios resolvidos
R1. Uma bola de bilhar rola sobre uma mesa com velocidade constante de 4 m/s. Após sair da mesa, cai, atingindo o chão a uma distância de 2 m dos pés da mesa. Desprezando os efeitos do ar, determine, aproximadamente, a altura da mesa. Adote g = 10m/s 2 . Resolução:
Dicas para resolver exercícios sobre lançamento horizontal de projéteis. Por conta do grande número de dados fornecidos no enunciado da questão, precisamos ser organizados. Vamos ser objetivos e práticos na resolução dos exercícios. A seguir, estão algumas etapas importantes que facilitam muito a análise e a solução de problemas envolvendo lançamento horizontal: 1. Organize os dados fornecidos, separando claramente as informações relacionadas aos dois eixos: o Eixo X (horizontal): geralmente envolve velocidade constante. o Eixo Y (vertical): envolve queda livre, com aceleração da gravidade. 2. Desenhe um esquema da situação descrita. Representar o cenário graficamente ajuda a visualizar a trajetória, identificar os vetores e aplicar as equações corretas. 3. Escolha as equações adequadas para cada eixo: 4. No eixo X: a. No eixo Y: (deslocamento vertical em função do tempo) 5. O tempo (t) é a variável que conecta os dois eixos, pois é o mesmo para o movimento horizontal e vertical. Portanto, ele é a chave para interligar as equações dos dois sentidos do movimento. 6. Decida por onde começar: em muitos casos, é mais fácil encontrar o tempo usando os dados do eixo Y (altura, por exemplo), e só depois aplicá-lo no eixo X para calcular o alcance ou a posição horizontal. Essas etapas são fundamentais para resolver corretamente os problemas. A clareza na separação dos dados e o uso estratégico do tempo tornam a análise mais simples e precisa.
Eixo X
Eixo Y
V 0 = V X = 4 m/s
S 0Y = 0 m
S X = 2 m
V 0Y = 0 m/s
S 0 = 0 m
g = 10 m/s 2
t queda = ?
S Y = ?
t queda = ?
R2. (FEI - SP) Um bombardeiro voa a 3920 m de altura com velocidade de 900 km/h. De que posição ele deve soltar uma bomba para atingir um alvo no solo? Adote g = 10 m/s 2 . Resolução:
3.5.d Exercícios propostos P1. (UFPR) Uma bola rola sobre uma mesa horizontal de 1, 225 m de altura e vai cair num ponto do solo situado à distância de 2,5 m, medida horizontalmente a partir da beirada da mesa. Qual a velocidade da bola, em m/s, no instante em que ela abandonou a mesa? Adote g = 9,8 m/s 2
P2 (Unicamp-SP) De um ponto PM, a uma altura de 1,8 m, lançou-se horizontalmente uma bomba de gás lacrimogêneo que atingiu os pés de um professor universitário a 20 m de distância, como indica a figura. (Dado: g = 10 m/s 2 ). a) Quanto tempo levou a bomba para atingir o professor? b) Com que velocidade v o (em km/h) foi lançada a bomba?
P3. (CEFET - PR) Um menino posicionado na borda de uma piscina atira uma pedra horizontalmente da altura de 1m da superfície da água. A pedra atinge a água a 3 m da borda. Determine a velocidade, em m/s, com que o menino a lançou, considerando g= 10m/s 2 e desprezando a resistência do ar.
P4. Um avião de salvamento, sobrevoa uma região a uma altura de 3600 m do solo e com velocidade de 250 m/s, deve deixar cair um pacote para um grupo de pessoas que ficaram isoladas após um acidente. Para que o pacote atinja o grupo, deve ser abandonado t segundos antes de o avião passar diretamente acima do grupo. Adotando g = 10 m/s 2 e desprezando a resistência oferecida pelo ar, determine: a) o valor de t; b) a que distância da vertical, em que o pacote foi lançado, ele atinge o solo;
P5. (UNESP 93) Uma pequena esfera é lançada horizontalmente do alto de um edifício com velocidade . A figura a seguir mostra a velocidade da esfera no ponto P da trajetória, t segundos após o lançamento, e a escala utilizada para representar esse vetor (as linhas verticais do quadriculado são paralelas à direção do vetor aceleração da gravidade). Considerando g = 10 m/s 2 e desprezando a resistência oferecida pelo ar, determine, a partir da figura: a) o módulo de ; b) o instante t em que a esfera passa pelo ponto P.
P6. (UNESP 89) Em voo horizontal, a 3000 m de altitude, com velocidade de 540 km/h, um bombardeiro deixa cair uma bomba. Esta explode 15 s antes de atingir o solo. Desprezando a resistência do ar, calcule a velocidade da bomba no momento da explosão. Adote g = 10m/s 2 .
P7. (Famerp 2022) Dois gatos estão brincando num local onde g = 10 m/s 2 conforme representado na imagem. O gato 1 se encontra sobre o tampo de uma mesa, a 0,8 m do chão. O gato 2, que está no chão, na mesma vertical Q que passa pelo gato 1, inicia uma corrida, a partir do repouso, com aceleração a 2 constante. No mesmo instante, o gato 1 salta horizontalmente para frente, com velocidade horizontal V 1 = 1, 5 m/s levando 0,40 s para atingir o chão. Por fim, os dois gatos chegam ao ponto P no mesmo instante. Para a resolução da questão, despreze as dimensões dos gatos. a) Após saltar, qual era o módulo da aceleração do gato 1, em m/s 2 . Qual era o módulo da componente vertical de sua velocidade, em m/s, quando atingiu o chão? b) Quanto vale a distância d, em metros, entre a linha vertical Q, de onde os dois gatos partiram, e o ponto P, onde se encontraram? Qual era a aceleração do gato 2, em m/s 2 para que ambos chegassem a esse ponto P no mesmo instante?
3.5.b Lançamento horizontal
Após 1 segundo, Vy = 10 m/s; Após 2 segundos, Vy = 20 m/s; E assim por diante. Se representarmos esse movimento em um diagrama de vetores de velocidade , veremos claramente o que acontece com cada componente: O vetor da velocidade horizontal (Vx) mantém sempre o mesmo valor (20 m/s), com módulo, direção e sentido constantes. o vetor da velocidade vertical (Vy) aumenta seu módulo com o tempo, sempre apontando para baixo, refletindo a ação contínua da aceleração gravitacional. Esse diagrama permite visualizar a composição vetorial da velocidade total da bala de canhão ao longo do tempo. A combinação das duas componentes (Vx e Vy) forma um vetor resultante cuja direção se inclina progressivamente para baixo à medida que o tempo passa. O conceito-chave ilustrado nesse exemplo é que: O movimento horizontal é uniforme (velocidade constante); O movimento vertical é uniformemente acelerado (velocidade varia com o tempo). Essa distinção é fundamental para entender o comportamento de projéteis e será útil na resolução de problemas envolvendo lançamentos.
2. Desenhe um esquema da situação descrita . Representar o cenário graficamente ajuda a visualizar a trajetória.
3. Escolha as equações adequadas para cada eixo.
1. Organize os dados fornecidos , se-parando claramente as informações relacionadas aos dois eixos:
O tempo (t) é a variável que conecta os dois eixos, pois é o mesmo para o movimento horizontal e vertical. Portanto, ele é a chave para interligar as equações dos dois sentidos do movimento.
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2. Desenhe um esquema da situação descrita . Representar o cenário graficamente ajuda a visualizar a trajetória.
1. Organize os dados fornecidos , se-parando claramente as informações relacionadas aos dois eixos:
3. Escolha as equações adequadas para cada eixo.
O tempo (t) é a variável que conecta os dois eixos, pois é o mesmo para o movimento horizontal e vertical. Portanto, ele é a chave para interligar as equações dos dois sentidos do movimento.
https://www.flickr.com/photos/ennor/538533983
https://en.wikipedia.org/wiki/Ballistics
https://openstax.org/books/college-physics-2e/pages/3-4-projectile-motion